Ao longo dos quatro anos de conflitos na região milhares de pessoas morreram e ficaram feridas, inclusive soldados. Assim como na população local, existiam muitos afrodescendentes e migrantes na composição dos quadros do exército designados para as ações nomeada pelo governo da República Federal como pacificação do Contestado.
Agora vamos conhecer um pouco do diário escrito pelo soldado João Pereira dos Santos entre os anos de 1892 a 1920, onde João escreve sobre suas vivências durante a Guerra do Contestado. O diário se encontra na Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio, em Curitiba - PR, sociedade que João fez parte.
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Criada em 1888, após a abolição da escravatura na cidade de Curitiba no Paraná, a Sociedade Treze de Maio foi a primeira instituição histórica dos negros paranaenses, João Pereira dos Santos fez parte dessa instituição, possivelmente compôs cargo na diretoria, por este motivo seu diário se encontra na instituição.
Nas folhas 20, 29 e 30 de seu diário, lemos, sem alterações ortográficas, informações referentes ao ano de 1914, quando o soldado se desloca para a região do Contestado:
"conforme fez publico o boletim regimental, transcripto do boletim da 9ª Brigada de Infantaria, foi determinado que o commando do 14º Regimento de Cavallaria, estivesse prompto um esquadrão com effectivo de guerra equipado com todo material de guerra afim de seguir para o Contestado, com urgência, para tomar parte na campanha contra os fanáticos nos insteresse dos estados, Paraná Santa Catharina" (Folha 20 do diário, Janeiro de 1914).
" Outubro – A 2, conforme determinação do Exmo Snr Coronel João Imidio Ramalho, Commandante da Brigada, foi determinado que o Commando do 14º Regimento de Cavallaria, estivesse prompto um esquadão com effetivo de guerra, e completo ordem de marcha com todo material de campanha, afim de seguir para os interiores dos Estados do Paraná e Santa Catharina para tomar parte na campanha contra os fanáticos [...] embarquei ás 9 horas com o 1º Esquadrão na estação de Curityba, sobre o commando do snr. Capitão Emilio Zaluar em trem especial com destino ao Contestado – a 6, chegamos na estação de Canoinhas as 12 horas, onde desimbarcamos e marchamos para a Villa do mesmo nome, aonde chegamos as 17 horas e acantonamos"
João participou de muitos combates, nas folas 22, 23, 32 e 33 escreve (sem alterações ortográficas) sobre um combate entre as tropas e os sertanejos, chamado por João de fanáticos, mesmo nome atribuído pelo governo e imprensa aos sertanejos que faziam parte do movimento social do Contestado:
"[...] conseguimos tomar de assalto os redutos dos fanáticos, com uma luta de vinte e duas horas de combate, tendo sahido fora de combate, apenas cinco praças feridos e seis mortos, e da parte dos inimigos 94 entre mortos e feridos, homens, mulheres e crianças. As 15 horas, as tropas regressaram ao acampamento e na mesma data, o Snr. Coronel, determinou que o meu esquadrão seguisse para o local da luta afim de fazer o sepultamento dos cadáveres, sobre a proteção de uma sessão de metralhadoras pesadas,"
"marchei com o meu esquadrão, as 8 horas, fazendo a vanguarda de uma companhia de guerra, afim de fazermos reconhecimento em diferentes pontos abitados pelos fanáticos, as 12 horas esta tropa ao aproximar de um dos redutos foi traiçoeiramente atacado pelos mesmos por todos os flancos, tendo durante este combate quatro horas, rezultado a morte de oito praças e os ferimentos em doz, e da parte delles também muitos mortos e feridos, e ainda conseguimos a tomar muitos troféus, como animais, diversos pelegos, armas, munições e alguns patos,as 18 horas, regressamos ao acantonamento 6 leguas de marcha.) A18, os fanáticos atacaram um comboio de tropas conduzindo viveres e foragens, do 46º Batalhão de Caçadores, entre a Villa de Canoinhas e a estação do mesmo nome, rezultando os ferimentos em um sargento e uma praça e muitos animaes mortos e outros feridos"
João escreveu sobre o seu deslocamento na região, os combates que participou e também sobre os mortos e feridos neste combates, o seguinte trecho se refere ao ano de 1915 e se encontram nas folhas 36 e 37 de seu diário, lemos sobre o reduto de Timbozinho, grande quantidade de mortos e feridos, inclusive vaqueanos pessoas da região ligadas aos coronéis locais que fizeram parte das forças repressoras:
"[...] acampamos em Santo Antonio 4 leguas de marcha.) A 4, marchamos as 7 horas, as 12 horas as forças começaram a dar combates com pequenos grupos de fanáticos – e a tarde conseguimos tomar o reduto de Timbozinho, aonde acampamos as 19 horas, nestes combates foram mortos quatro praças e ferimentos em vinte, e da parte dos fanáticos muitos mortos e feridos, além de grande quantidade de material, 10 leguas de marcha. A 5, marchamos as 7 horas, as 18 horas acampamos em Richard, 6 leguas de marcha, durante este percusso as tropas combateram com muitos grupos de fanáticos rezultando apenas os ferimentos leves em quatro cinco Vaqueanos da colluna, na mesma data encorporamos aos outros dois pelotões que se achavam operando com a 1ª colluna"
João também escreve sobre o grande número de mortos e do transporte de soldados feridos na folha 27 do seu diário:
"A 19, as nossas tropas conseguiram tomar de assalto o referido reduto, tendo este combate durado três dias e três noites havendo muitas baixas dos nossos soldados, inclusive dois officiais do Estado Maior do Snr General Commandante da Brigada e da parte dos inimigos não se pode calcular exato as suas baixas, tal foi o grande numero de mortos e feridos a tarde acampamos em Santo Antonio, A 20, marchei com o esquadrão as 9 horas, com destino a Poço Preto, conduzindo os feridos para serem transportados para os hospitaes militares"
Abaixo imagem de transporte de soldados feridos, parecido com o descrito por João em seu diário:
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